A Físico-Química Divina

Eduardo Vieira
4 min readOct 26, 2020

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(Eduardo Vieira — 26/out/2020)

À medida que vamos conhecendo a vastidão do universo e a igualmente vasta dimensão temporal que engloba a nossa vida, e aliás toda vida nesse planetinha, a idéia de uma grande coincidência gerando tudo isso parece algo muito remoto. Mais remoto que o tolerável pela lógica.

A quantidade de forças e reações envolvidas há alguns bilhões de anos, quando nosso planetinha estava sendo formado pela aglomeração de matéria ao seu redor é tão gigantesca e “caótica” que bastaria uma pequena explosão fora do lugar para afastar aquele naco de oxigênio necessário para encher de água a Terra.

Foto de uma galáxia em formação

Da mesma forma, o posicionamento do planeta em relação ao Sol e as características dessa nossa estrela, exatamente adequadas para a formação da vida, é algo que chega ao nível da poesia. Uma sinfonia cósmica de complexidade indescritível e inimaginável. A Beleza em sua forma mais tremenda!

Depois de todo esse processo de formação o mundo coalesceu e a vida apareceu, na água. Lá ela foi se desenvolvendo e se tornando complexa em milhões e milhões de anos. E a água tem uma característica peculiar de proteção aos seres que nela habitam, que vou explicar aqui.

Todos nós já vimos aquela cena em filmes quando se está patinando num lago congelado e há água líquida embaixo. Pescadores no Ártico fazem um furo no gelo e lá depositam seus anzóis. Como isso seria possível? Por que a água não congela toda?

Pescador inuit no Ártico

A questão é que a água tem um comportamento anormal, vejam só. Nossa natureza, em seus infindáveis pacotes de coincidências fez que a água agisse de forma bizarramente peculiar e que essa bizarrice fosse vital para a proteção de organismos complexos.

Vamos às explicações. Comecemos pelo conceito de densidade. Trata-se de uma característica de aglomeração. Quanto maior a densidade mais matéria existe por volume. Assim. se tivermos dois bloquinhos sólidos de igual tamanho, o de chumbo vai pesar mais do que o de gesso. De forma inversa, um quilo de chumbo cabe na palma da mão, enquanto que um quilo de algodão soterraria qualquer um.

Mas ambos tem a mesma massa, o mesmo peso.

A água congela na temperatura de zero graus Celsius. Então quando o ar acima do lago atinge essa temperatura ou inferior a superfície começa a congelar. Esse processo deveria se propagar até o fundo do lago, matando todos os peixes lá dentro. MAS….

A bizarrice que eu citei é que a água é mais densa a quatro graus Celsius que a zero. Então quando o ar esfria o fundo do lago vai sendo tomado por água a quatro graus e essa água vai esfriando na direção da superfície até atingir a camada de gelo. Nessa fronteira a água estará sempre nos zero graus, mesmo que o gelo se encontre a dez negativos.

Mas outra peculiaridade ajuda nesse processo. O gelo é um isolante térmico, por incrível que pareça. Se acha que eu fiquei senil por excesso de consumo de feijão, pergunte aos esquimós que constroem casas de gelo, os iglús, para se protegerem do frio e do vento. Lá eles acendem um fogo e ficam quentinhos.

Então a mesma crosta de gelo que transmitiria o frio para a água age como parede de proteção e se analisássemos detalhadamente a temperatura em sua espessura veríamos que a parte mais fria estaria exposta ao ar e a temperatura do gelo iria esquentando até a fronteira com a água, a zero graus. Mas que sorte, não é mesmo?

A imagem abaixo ajuda a visualizarmos o processo. Na da direita pode haver uma capa de gelo cobrindo toda a água.

Diagrama mostrando o verão (summer), à esquerda, e o inverno (winter) à direita

Logo, logo aparece um sabichão para explicar que tudo isso é perfeitamente natural, e que as ligações do hidrogênio com o oxigênio tornam-se mais “curtas” ou seus campos elétricos tornam-se mais fortes aos quatro graus, fazendo com que os átomos da água fiquem mais próximos e portanto a densidade aumente.

Sim, é claro. Todos sabemos disso. Por que a ação divina deve ser uma violência à natureza que Ele mesmo criou? Que é Ele próprio, em essência? Ora, ao observarmos que existe uma explicação natural para esse fenômeno estamos meramente declarando que a grama é verde. Tal explicação não tem o poder de negar a existência de Deus, nem de longe. A grama é verde.

Que, aliás, é uma de minhas cores favoritas nessa tremenda criação divina, o universo em que vivemos. Vamos aproveitar essa dádiva absolutamente incrível que Deus nos deu, a nossa vida. Vá até a janela e dê uma bela respirada e deixe-se deliciar por esse espetáculo por um momento.

Literalmente céus e terras foram movidos para que esse singelo momento pudesse ocorrer. Vai lá!

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Eduardo Vieira
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