A linda despedida de James Gunn
(Eduardo Vieira — 27/mai/2023)
James Gunn é o diretor da série Guardiões da Galáxia, da Marvel, agora propriedade da Disney. Como muitos já devem ter percebido, a Disney se deixou dominar pelo mais abjeto regressismo, abraçando as piores pautas, inclusive a famigerada propaganda perversa de gênero contra a infância. Depois de um grande e sensacional arco narrativo envolvendo vários personagens, a Marvel finalizou sua série sobre as jóias do infinito destruindo todo o seu legado, para garantir que o futuro de suas obras seja tão insosso e lacrador quanto Wokanda. E estava faltando esse último filme dos Guardiões para fechar o processo.
James Gunn vem sendo perseguido pelos executivos woke da Disney há bastante tempo, chegando a ser afastado da direção deste último filme. Mas o elenco se revoltou e ameaçou os vilões, que acabaram cedendo. A vida imita a arte e este episódio tem uma bela pitada de heroísmo. Gunn pôde então dirigir seu filme de fechamento da série. E que filme!
SPOILER ALERT ->> A partir daqui podem esperar spoilers variados sobre o filme, portanto é a hora de parar de ler se quiserem se preservar deles.
Este comentário poderia se chamar “O canto da sereia de James Gunn” ou alguma coisa parecida. É triste que o público tenha que se despedir de um de seus maiores criadores, e este foi levado à força para a guilhotina woke, onde sua cabeça foi cortada, sempre em nome da liberté, da egalité e, especialmente, da fraternité. Pois nada é mais fraterno para o regressista que uma lâmina sangrenta. Mas Gunn aproveitou suas últimas palavras e passou um recado sensacional, belíssimo e verdadeiramente inspirado.
Em seu primeiro filme da série o vilão foi um alucinado em busca de poder, disposto a trair seus superiores e a fazer qualquer genocídio para colocar suas mãos no poder. Este representava o globalista padrão, o metacapitalista, um Soros ou um Lehman. Seu fim foi retumbante e destruidor.
No segundo filme, Gunn aponta sua arma (pun intended) para os hippies e os ambientalistas radicais. Seu vilão, muito bem chamado de Ego, representa os moderninhos veganos que estão plenamente engajados numa campanha para parecerem as melhores pessoas do mundo. E, claro, se você discordar deles eles atacam furiosamente, mentindo, depredando e caluniando, mas tudo com muita paz e amor. A quantidade de engraçadíssimas sacanagens dirigidas aos veganistóides é tão grande quanto oportuna e o melhor é que eles, tendo séria deficiência cognitiva, assistiram ao filme sem entender que eram o objeto da piada. O vilão, aqui representado pelo excelente Kurt Russel, que fez o delicadíssimo Snake Plissken em Fuga de Los Angeles, é de uma hipocrisia tão gritante que chega a ser cômica. Ele está disposto a amar todo o universo, desde que possa controlar a mente de todos através de uma… planta. Pensou em soja, acertou! Ou seria um cogumelo?
E nessa última obra de arte nosso caríssimo diretor desmembra outro grupo de vilões da atualidade: os trans-humanistas. Com uma porrada só, Gunn expõe a vilania dos mecanicistas e dos geneticistas, ambos empenhados em fazer um ser humano melhor, de preferência perdendo sua humanidade no processo. E é nesta obra que, ao meu ver, o diretor consegue passar a mais bela das mensagens.
Tudo começa com o jovem Rocket, aprisionado numa masmorra que recende ao horror dos calabouços do Circo Máximo, onde cristãos eram jogados às feras. Mesmo nesse lugar horrendo, o assustado guaxinim consegue fazer amizades com outras criaturas cheias de defeitos mas também cheias de compaixão e humanidade.
Temos algumas demonstrações de como se comportar num ambiente de gozação saudável com a trupe dos Guardiões se sacaneando incessantemente. O ponto alto é protagonizado por Drax, o Destruidor. Depois de ser chamado de limitado pela empática Mantis, ele a engana fazendo-a subir na moto que os levaria à nave do vilão. Nessa hora ele dá uma risadinha no melhor estilo do “Hehehe. E eu que sou limitado?”.
O vilão, aliás, é demais. Chama-se Alto Evolucionário e é representado por um ator negro num universo onde a distinção da vilania se tornou praticamente exclusiva dos brancos, héteros e ricos. Chiliquento e intolerante, o vilão termina traído por sua própria equipe e prontamente a destrói, numa evidente referência a Stalin. Ou seria a Fidel? Ou a Foucault? Talvez a Mao? Ou seria a Harari? É difícil saber mas não tem problema, no regressismo são todos iguais.
O vilão, aliás, é bem definido por uma exclamação no final:
“Ele não era capaz de amar ninguém e não aceitava nenhuma característica diferente”
Essa é a verdadeira definição do regressista woke engajado dos dias atuais. E Gunn entrega imediatamente um contraponto. No filme, aparece um jovem dourado superpoderoso chamado Warlock. Tão poderoso quanto burro, o jovem faz sua dose de asneiras até que é rejeitado por todos e entra no cacete quando enfrenta os Guardiões. Derrotado e acabado, é salvo pelo já fortíssimo Groot. Intrigado, o douradinho pergunta por que foi salvo. Groot, nobre e plácido, olha para trás e diz, como um bom católico: “Todos merecem uma segunda chance.” Logo em seguida Warlock se redime, quando todos haviam perdido as esperanças. Yeah!
Várias outras belas mensagens aparecem no filme. Destaco aqui um par que se complementa. Em dado momento, num ataque histérico de fúria, o Alto Regressista vocifera que Deus não existe e é por isso que ele teve que agir. E que buscava criar uma sociedade utópica. Sim, palavras dele, mas poderiam ser de algum barbudo purulento no século XIX. Enquanto o vilão se declarava pronto a fazer quantos genocídios fossem necessários para levar a humanidade à perfeição, Rocket, o guaxinim, tinha uma experiência mística de quase-morte. Caminhando na direção da luz, ele vê seus amigos no que obviamente é o Céu, e recebe a informação de que todos estão ali felizes, voando ao bel prazer, e que estariam esperando por ele. Pelo visto o Alto Ateísta teve uma surpresa no fim do filme.
Impossível não identificar esse vilão com a malta de poderosos que nos oprime nesses dias. Substitua a máscara borrachenta do vilão pelo rosto de um Harari, um Schwab, um Fauci, um Gates, um Rockfeller ou um Obama e não verá nenhuma inconsistência.
No fim, a grande família que é esse grupo se reúne numa despedida doce e amarga, onde Nebula diz a Drax que enfim enxergou sua verdadeira essência. Ele não nasceu para ser o Destruidor. Nasceu para ser pai.
Ali no cantinho, sentado num degrau, o jovem Warlock saboreia encantado todo aquele amor, emocionado. Quem resume tudo é Groot, e Gunn pela única vez nos permite entender o que ele diz:
“Eu amo todos vocês!”