A Preciosidade

Eduardo Vieira
2 min readMar 21, 2023

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(Eduardo Vieira — 21/mar/2023)

Esses são tempos dos mais vazios que a História já presenciou. Parte da população se esforça na “corrida dos ratos”, escalando uma montanha vazia que leva ao topo do nada, sem vista alguma. Outra parte se prepara para entrar nessa mesma corrida, crente que nessa disputa os problemas se resolvem. Outros, menos presos por questões morais, partem para a falcatrua . Outros, ainda, se agarram a um emprego público bolorento.

A esmagadora maioria destes não consegue preencher sua vida com significado. Nem com vocação, nem com orgulho. Tudo isso fica para a viagem de férias, para o carro novo, para a selfie bonita. Aí enxergam o valor da vida. Num momento de glamour, tão raro quanto mal aproveitado, concentram todas as expectativas, todo o sofrimento, todas as frustrações. E depois ficam surpresos com a incessante insatisfação, a insaciácel sede por algo que muitos adiaram há tanto tempo que sequer vislumbram o que seria. Perderam até o sonho.

Enquanto isso, enquanto contemplam o vazio existencial por uma janela de vidro frio olhando para o prédio vizinho, ignoram a mãozinha que puxa a calça, pedindo atenção. Ignoram a birra que pede atenção. Ignoram o desenho feito com mais amor que conseguem conceber, que o artistinha traz para sua aprovação, com um sorriso expectante no rostinho rechonchudo.

Mas nesse cenário cinzento, uma vez ou outra um daqueles sujeitos de olhar vazio chacoalha a cabeça, como se despertando de um horrível e interminável pesadelo, olha para aquela figurinha risonha, a pega no colo, ergue-a num abraço de urso, solta uma gargalhada e descobre o que é precioso na vida.

E mais uma luz se acende na escuridão.

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Eduardo Vieira
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