Carta ao Gilmar

(Eduardo Vieira — 17/11/2019)

Eduardo Vieira
3 min readNov 17, 2019

Salve, Gilmar.

O meu nome é Eduardo Vieira. Sou um Zé da Esquina, como você se referiu aos elementos comuns do povo brasileiro. Estou endereçando esta carta a você porque é necessário que você tome ciência de algumas verdades importantes. Verá, contudo, que não faço isso por qualquer consideração a você.

Em primeiro lugar, saiba que eu, Zé da Esquina, sou muito melhor que você. Superior mesmo, um ser humano muito, muito melhor. Para início de conversa eu não me relaciono com bandidos, a não ser se for para os perseguir nas ruas ou para os denunciar à polícia. Já você os tem como amigos e os protege da mesma lei que jurou defender, alijando todo o sistema penal e jurídico que formam a base da nossa sociedade.

Você, Gilmar, foi alçado a um cargo muito superior às suas mais selvagens aspirações. Em seu cargo você deveria ser o paladino da Lei, a personificação cega da justiça em seu mais alto patamar. Um cargo nobre, digno e exaltado. Ao entregar esse cargo para você, Fernando Henrique Cardoso, o THC, apenas mostrou que o PSDB nada mais é que um partido de suporte à máfia que comanda este país há décadas.

Neste momento de esperança de todos os brasileiros, Gilmar, você ousa agredir a sociedade. Do alto de seu castelo, cheio de regalias e benefícios, você se atreve a desafiar a vontade de todo um povo. Eu até te entendo, pequeno Gilmar. Esse povo realmente andou dormindo por muitos anos, alheio à terrível doença que corroía sua elite governante. Você então presumiu que estaria falando com este mesmo povo, com o antigo Zé da Esquina.

Cabe a mim o prazer de te informar, infame Gilmar, que eu ainda sou um Zé da Esquina como qualquer outro. Mas os Zés de hoje são diferentes dos Zés de ontem, quando a esquerda pintava e bordava usando os recursos do Estado. Eu não tenho um assessor a postos só para puxar a minha cadeira. Eu teria vergonha disso, seria uma agressão à minha dignidade. E está aqui a nossa maior diferença, indigno Gilmar. Você come lagostas com vinhos caros pagos pelos pobres desse país. E eu vivo com dignidade.

Eu diria para você se curvar a mim, o Zé da Esquina, agora que eu mostrei o quanto estou acima de você, reles Gilmar. Mas sei que não fará isso. E é exatamente por saber disso que eu irei em poucas horas para cima de um carro de som ler esta carta para todo o Brasil ouvir, orgulhoso Gilmar.

De cima desse carro de som eu unirei a minha voz às de milhões de brasileiros que estão de saco cheio da infâmia que é essa corte profana da qual você faz parte. Você nos ameaça com processos, tenta nos calar com ameaças, nos chama de robôs. Mas aqui vai mais uma informação para você, cego Gilmar.

Você está lutando contra o nosso dedo mindinho. Pensa estar até vencendo mas você ignora o gigante que sempre tolerou suas agressões e desrespeito. É um gigante tremendo, movido por uma força que você não é capaz sequer de conceber, ímpio Gilmar. É um gigante formado por milhões de Zés da Esquina. E estamos indo atrás de você, pequeno Gilmar.

Coloque isso na cabeça. A sua hora chegou. Seu chamado para a aposentadoria forçada e humilhante acabou de ser entregue à sua porta. Pode espernear e se debater, aflito Gilmar, que nada vai alterar o que hoje foi iniciado. Você será impedido, e essa é a melhor das hipóteses. Seja impedido e viva humilhado o resto dos seus dias, triste Gilmar.

Porque eu, o Zé da Esquina, te garanto. Eu te garanto aqui uma coisa, Gilmar!

O seu tempo acabou. Você vai sair porque EU vou te tirar daí. E vou te avisar dessa única vez: Não ouse me desafiar.

Eu sou o Zé da Esquina e eu valho muito mais que você.

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Eduardo Vieira
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