Feudalismo ou Saudades da Coroa
(Eduardo Vieira — 08/fev/Ano I da ditadura regressista no Brasil)
Voltaram as aulas à rotina de milhões de pais no Brasil. E junto com essa bela notícia vem as maravilhosas perguntas, feitas por aquelas lindas cabecinhas sendo expostas a tantas novidades.
E recebi aquele comentário que equivale a mais bela das iscas para um peixe faminto. “Nâo entendi bem o que foi o Feudalismo.” Mas que maravilha. Perguntei se ela gostaria que eu contasse um pouco sobre as coisas desse período e com uma resposta animada me enchi de disposição.
Primeiro, claro, lembrei à filhota de que muita coisa apresentada pela escola seria indevida, errada ou mesmo maliciosa e que eu ainda tenho que servir como o juiz dessas características. É preciso saber o que cai na prova e o que é verdadeiro, coisas muitas vezes diferentes e mesmo opostas.
Recordado esse princípio fundamental dos não-homeschoolers, pus-me a pensar sobre a melhor forma de explicar. Qual seria a essência do feudalismo? Seria a lentidão nas respostas econômicas devido à grande concentração de poder? Seria a “desigualdade”? Confesso que ao passar esse absurdo pela minha cabeça eu ri alto e segui pensando até que cheguei no início do que seria aquele novelo medieval que usaria para informar a pequerrucha.
Ora, o feudalismo foi o sistema político-econômico que substituiu a bagunça reinante antes do período medieval. Desde que os fenícios cunharam aquela primeira e safada moeda que o Inimigo recebeu uma poderosíssima arma para fazer seu sujo trabalho. Mas os fenícios não duraram muito tempo e seus filhotes, os cartagineses, foram devidamente apagados do mapa pelos romanos. “Delenda Cartago!”, disse Catão(1), num tempo em que os senados que não possuíam gazelas. A maléfica cultura materialista sofreu um duro golpe mas parte de sua obra permaneceu e a mesma mão que forjou os gládios que limparam o sul do Mare Nostrum cunhou os sestércios(2).
E foi em Roma que nasceu aquele que veio para nos salvar. E, sem dúvida, um dos inúmeros aspectos benéficos da cultura cristã foi a determinação da autoridade suprema e infalível de um Deus que não coexistia com uma miríade de outros, num panteão belicoso onde o poder derivava da força e da guerra. Surgiu a monarquia, o domínio dos ungidos de Deus, os líderes submissos a uma sabedoria suprema, os poderosos com freios morais escorados na Fé.
Essa estrutura de poder ancorada num Deus único, numa Verdade inabalável, sem dúvida foi o que mais marcou aquele período. Se o poder do Rei derivava de Deus, da mesma fonte derivava o poder de seus vassalos. E, se o poder derivava de Deus e era concedido a todos os governantes em todas as nações cristãs, é fácil imaginar como seria forte esse fato como obstáculo às guerras. E, realmente, a Europa conheceu durante os mil anos do Milênio Brilhante um período de relativa paz até então inédito(3).
Com o Cristianismo veio o progresso verdadeiro. Nasceu dele a Ciência, a arte desabrochou e os ideais gregos de conhecimento foram desenvolvidos nas então grandes instituições dedicadas ao intelecto: as universidades católicas(4). Naquela época gênios como São Tomás de Aquino passeavam pelo continente espalhando sabedoria.
Mas o Inimigo não descansa e menos de três séculos (5) após a queda para cima de Roma (6) uma nova força de destruição surgiu no Leste. E a Cristandade se armou na maior ação de defesa da história até então: as Cruzadas.
Com o brilhantismo de mentes como as de Raimundo Lúlio e São Bernardo de Claraval o conceito de cavalaria se organizou e várias ordens monásticas de guerreiros cristãos surgiram e floresceram, até a fatídica sexta-feira 13 (7). Cavaleiros templários em suas vestas brancas com a cruz vermelha. Os hospitalários da ordem de Malta com suas tabardas pretas com a cruz branca. Os cavaleiros teutônicos da Alemanha com a cruz negra sobre fundo branco.
Uma época quando a Santa Igreja reagia com vigor aos males do mundo. Imaginemos o que seria do mundo se essas ordens não tivessem sido enfraquecidas? Ah, as maravilhas!
Como pode alguém não gostar de História? Ave, Império!
Notas:
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(1) — Senador romano que discursou a favor da destruição de Cartago após a vitória romana nas Guerras Púnicas
(2) — Nome de uma famosa moeda romana
(3) — Os amantes do termo “idade das trevas” sem dúvida se incomodarão com essa afirmação, citando conflitos como a guerra dos cem anos como exemplo do erro da afirmação. Todavia é a pura verdade e bastante óbvia, como esta costuma ser.
(4) — as universidades foram criação da Santa Igreja Católica e se espalharam pela Europa durante o Milênio Brilhante. Era coisa usual a circulação de professores fazendo temporadas de ensino em diferentes universidades.
(5) — Roma caiu em 476 d.c. Durante o século VII o mundo viu o surgimento do Islã e sua rápida expansão, usualmente através de conquista armada. Tal conquista ocorreu também nos reinos cristãos do levante e arredores, como Antióquia, Acre, Jerusalém, etc. As cruzadas foram uma ação de resposta a esses ataques, entre outros fatores.
(6) — A brincadeira com a queda “para cima” de Roma se trata da imediata conversão dos conquistadores ao Cristianismo e o consequente surgimento do Sacro Império Romano-Germânico (em suas diversas denominações), que deu origem à toda a nobreza européia.
(7) — Referência ao dia 13/out/1307, quando o rei Filipe da França prendeu e executou grande número de templários, incluindo seu líder, Jacques de Molay (preso nesta data, executado apenas 7 anos depois)
(*) — Na foto, a Catedral de Salisbury, construída pela Igreja Católica. Hoje é anglicana.