Magister dixit
(Eduardo Vieira — 09/jun/2020)
Essa pequena expressão encerra complexas questões que estão absolutamente conectadas com o péssimo momento que atravessamos. Seu significado é “O mestre disse”, e é comumente usada para apontar uma falácia muito usada em debates, a falácia da autoridade. Da corrupção de um conceito já corrupto vieram barbaridades como “lugar de fala”. Mas chegamos nisso adiante.
Não há nada mais lógico e seguro que a consulta aos sábios para a tomada de decisões. Desde antigamente, quando o segundo homem das cavernas meteu a mão no fogo, se queimou e ao ir refrescar a patorra no rio se encontrou com o velho da tribo fazendo a mesma coisa e rindo dele, a experiência é valorizada.
E de braços dados com a experiência vem evidentemente o mérito, pois a velhice não é garantia de sapiência mas apenas de senilidade eventual. Temos diversas comprovações disso pela História. A Humanidade gerou muitos idiotas que seguiram com sua idiotice incólume até a idade avançada e cuja morte proporcionou significativo aumento ao QI da espécie. A maioria destes foi adequadamente esquecida, evidentemente. E não foi à toa.
A sociedade sempre valorizou os idosos inteligentes. Estes se reuniam em conselhos de anciões, ocupavam altos cargos onde só se chegava pela idade e mérito, e passavam o supra-sumo da cultura de suas épocas aos netinhos sentados em seus joelhos.
Com a modernidade isso mudou. O homem-massa descrito por Ortega y Gasset ascendeu socialmente, causando uma espetacular confusão. Essa horda de selvagens, incapaz de formar uma porcaria de uma opinião, absolutamente destituída de intelecto ou senso crítico, tendo no seu repertório imaginativo três biografias de símios similares que cinicamente suprimiram suas safadezas mas sempre satisfizeram sua sede por sestércios (sempre sensacional, César), viu-se pressionada a exibir tudo isso ao mundo.
Aqui não estamos falando da roupa nova do imperador. Não, nenhuma ilusão de grandeza jaz nos corações dessa turma mas tão somente a soberba que os leva a ejacular que ultrapassaram Deus e que portanto devem saber tudo. Assim se esforçam por parecer sem nunca dar um único passo na direção de ser.
No meio da massa estridente de desvalidos ascendem à superfície pelotas de excremento flutuante como Míriam Leitão, Guga Chacra, Átila Iamarino e outros medíocres similares. A lista seria extensa demais para os 110 Gigabytes livres do disco rígido desse notebook. Mas pode incluir nela todo mundo que aparece sem esforço de garimpo com raríssimas exceções. E bota raridade nisso.
Neste cenário tão horripilante como real a sociedade trocou a sabedoria prudente de seus realmente sábios, aqueles que eram elevados à condição de Mestre pelo brilho de suas mentes, pelo direito a ser mestre conferido por um pedaço de papel.
Depois de um tropeço sempre vem uma pancada e a mesma sociedade que cometeu o tropeço anterior meteu a testa numa pedra, rachando o crânio quando elevou o erro ao cubo e delegou autoridade superior a instituições amorfas, obscuras e burocráticas. Se esse crânio contivesse algo precioso o estrago seria grande.
Seria bom que voltássemos alguns passos na nossa “evolução” para acertar alguns ponteiros. Temos que esvaziar o poder institucional e sindicalizado e devolver tudo isso aos pequenos núcleos. E daí construir uma evolução que mereça o nome e não se refira apenas ao passar do tempo e à deterioração da matéria.
O caminho para isso é tão claro como impopular.
Humildade e estudo.