O Caminho do Amanhã

Eduardo Vieira
4 min readOct 1, 2022

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(Eduardo Vieira — 01/out/2022)

No Rio de Janeiro, um pai observa sua filha fazendo ginástica. Ela corre e dá um salto mortal sozinha, caindo de pé. Radiante, vira seu rostinho para ele, que a inunda de amor com seu olhar. Enquanto a pequenina saltita feliz para mais uma aventura, o pai olha para cima e se vê de repente caminhando, de amarelo, num caminho. Adiante, a sensação de uma importante missão.

No interior do Brasil, uma mãe deixa a filha na escola. Já dentro do portão a menininha volta-se para dar mais um tchauzinho para a mamãe, que sorri embevecida. Ao caminhar para o carro ela pensa em Deus e se vê caminhando numa estrada ao lado de um homem de amarelo. Estranhamente sem surpresa a moça vê que está de verde e há em seu coração um senso de urgência, a ansiedade de uma tarefa a cumprir.

Em Cuiabá um sorveteiro se prepara para sair cedo de casa. Levando o sorvete e o gelo para o isopor, que depois irá carregar por tantas horas, observa seu filho dormindo. Não resiste e se inclina para beijar-lhe a testa. Fica ali uns segundos pensando em como foi abençoado por ter aquela vidinha tão linda ali com ele. Ao se levantar não está mais em casa. Está num belo caminho e não está sozinho. Dezenas de pessoas caminham, vestindo verde, amarelo, azul e branco. Na frente do grupo, um homem e uma mulher parecem liderar o grupo. Ele veste amarelo. Ela veste verde e ambos caminham com alegria. O bom sorveteiro observa que suas mãos estão juntas, mas eles parecem nem perceber. Há uma expectativa no ar e uma estranha ansiedade é percebida pelo vendedor.

No Norte do país uma jovem índia dá uma colher de mingau para o seu bebê. O garotinho devolve um largo sorriso desdentado e o coração da mãe se derrete. Seu marido passa e lhes joga um beijo. A mãe olha para cima e de repente não está mais em casa. Está ao lado do marido num caminho com milhares de pessoas. Ambos estão de amarelo e todos andam resolutos, como quem sabe de seu destino. Curiosamente ela também sabe. Passa a mão ao redor da cintura do marido que retribui lhe abraçando e seguem sabendo que há algo importante a ser feito adiante.

No alto do céu um pássaro branco sobrevoa aquele lugar. Lá de cima ele vê milhões de pessoas, de todas as idades e tamanhos, caminhando juntos no que se tornou um grande rio verde e amarelo. A sensação de missão é perceptível. O pássaro mergulha para a frente do enorme rio e observa um homem de amarelo e uma mulher de verde que, de mãos dadas, se aproximam de duas plantas. Uma delas é uma bela e frágil flor, de cores lindas e delicadas. A outra é espinhosa e murcha, feia e torta. Eles sentem que é preciso escolher. Mas a escolha é tão óbvia, pois já amam a linda florzinha, sempre amaram. Pegam então água e jogam na flor, que cresce na hora e fica ainda mais deslumbrante.

Depois disso se olham, curiosamente sem surpresa. É como se fossem velhos conhecidos. Tudo está como deveria ser. O amor que sentiram por aquela flor agora sentem um pelo outro. Caminham para o lado e se abraçam, olhando a enorme torrente humana que se aproxima. Homens e mulheres, gordos e magros, brancos e negros, eles vão passando, felizes e sorridentes, e se encantam com a flor, cuja beleza já é indescritível.

Os dois soltam as mãos, sentindo que aquele momento mágico estava acabando. O homem abaixa a cabeça e se vê no ginásio com sua filha feliz em sua atividade. A mulher passa a mão nos cabelos e se percebe de volta no carro. Nenhum tempo havia se passado para nenhum dos dois mas muita coisa tinha acontecido. O homem se ergue, resoluto e esperançoso. Era preciso achar aquela moça de verde. Era preciso fazer muito, uma grande missão se tornava clara para ele. Do seu peito saiu um grande suspiro de fé e esperança. Naquele momento a moça no carro sentiu um doce calor no coração. A vida era bela e tudo iria dar certo. Ela mal podia esperar.

No fim do caminho, a bela flor resplandecia, e uma enorme multidão ainda por ela passava, deixando lá um pouco da beleza de cada um. Em cada coração, a alegria de estar naquele caminho e a certeza do Bem que dali viria. Era o caminho certo, um caminho de brasileiros, cheios de fé, esperança e beleza. Um novo país estava nascendo. Um novo país vai nascer. E será amanhã.

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