O engodo agradável ou
Dê-me uma mentira confortável antes de uma verdade dura.
(Eduardo Vieira — 11/abr/2023)
Tenho me mantido parcimonioso em meus comentários sobre política por algumas razões bem específicas. Uma delas é o meu espanto em relação à desconexão da minha percepção da realidade com a maioria dos comentaristas que tenho acompanhado. Inclusive políticos que se ocupam primordialmente de comentários das notícias em redes sociais.
Vejo-os exortando o povo para a celebração de um fim de mandato do atual presidente. Vejo-os em Brasília tecendo estratégias para a “recuperação do poder no Brasil”, movendo divisões inexistentes num tabuleiro onde tudo é uma grande ficção. Vejo-os batendo no peito e, suprema audácia, mostrando um adversário humilhado, derrotado, impotente.
Ao mesmo tempo que acompanho tais delírios, que são onipresentes, deixo bem claro, observo o que a rude realidade me apresenta: Matança recorrente de menores em escolas, propaganda maciça de uma vacina bivalente que devia se chamar inválida, pois foi feita para cepas que não estão em circulação há um ano e apresentam efeitos colaterais muito mais graves que a doença. Observo o risco Brasil disparar e os processos criminosos contra patriotas inocentes trafegando com tantos obstáculos quanto legalidade. Observo o aumento escandaloso de impostos e dos gastos públicos e vejo que a caçada aos defensores da verdade, esses agora já raríssimos, transcorre sem nenhum freio ou impedimento. Vejo o “Congresso mais conservador da história” fixando o olhar na parte menos ruim do quarto e virando as costas para o monstro tenebroso que já não se esconde mais no canto, na esperança imbelicilizante de que este não os verá.
Diante disso, haveria motivo para essa quantidade de húbris? É o caso de baterem no peito e venderem para o povo a mentira escabrosa de que são oposição dura e efetiva? Onde foi parar a vergonha, quem dilacerou a honestidade? Ou, ainda, que tragédia removeu a sanidade de tantos? Talvez, de fato, seja eu o louco, e como o Bacamarte, devo eu me internar na Casa Verde. Sinceramente, preferiria tal fim ao espetáculo dantesco que enxergo hoje.
No campo das análises vejo a mesma miopia. Análises profundas sobre a CPMI, como se houvesse a mais remota possibilidade de, depois de soltarem um bandido e o enfiarem na presidência sem qualquer princípio de legalidade, os donos do sistema fossem se dobrar a um grito popular que não passa de um gemido. Mas é preciso gerar engajamento, é preciso oferecer esperança.
Mas não há esperança senão na Verdade.
E em breve teremos uma leva de eventos conservadores. É preciso recuperar as ruas, dizem. É preciso vencer pela cultura, gritam outros. Vamos unir a direita! — vociferam os que querem aumentar sua fatia do poder. Mas nenhum deles, nenhum, até agora falou a verdade. Quem chegou mais perto disso foi o novato Gus Gayer, ao declarar que o congresso seria inútil. Foi atacadíssimo por isso. Afinal, se acha que o congresso é inútil, por que se candidatou? Deveria passar o mandato para alguém disposto a jogar com o controle do videogame desconectado, claro. Parte da direita quer a mentira. Parte, não: maioria esmagadora.
Portanto sei bem o que estou fazendo ao publicar este texto. Farei o mesmo em vídeo em breve. Afinal, nada devo a ninguém e não estou aqui para fazer amigos nem para incentivar o erro e a mentira. Pelo contrário, estou aqui para tentar chegar à verdade, sempre e a todo custo.
Para compreendermos melhor o que agora ocorre precisamos voltar apenas alguns meses no tempo. Não é preciso mais. Voltemos ao período eleitoral. Na época, muitas mentes brilhantes e eu nos esgoelávamos avisando que sem voto com materialidade e contagem pública não haveria chance de eleições limpas. Ouvi diversas vezes que veio “de Brasília” a determinação para não se falar em riscos de fraude. Vamos fortalecer a campanha de “virar votos”, pregavam os “especialistas”. Estarrecido com tamanho absurdo, evidentemente ignorei a “determinação” e redobrei meus esforços mas esse barco já tinha zarpado. Ao aparecer o baiacú exposto em toda a sua feiúra para quem soubesse algo além da matemática mais trivial, essa mesma direita, antes do segundo turno, seguiu não só ignorando a realidade mas embarcando na narrativa regressista de que seria necessária comprovação material de algum malfeito. Sim, torcida potiguar! A direita queria provas materiais de um sistema que não emite nada material. Nem contra, nem a favor. E quando expunha isso era criticado.
Parece absurdo, não é mesmo? Mas piora. Depois do segundo turno e até hoje, nesta data de 11 de abril, o pedido mudou para o “código-fonte”. Precisamos que nos entreguem o código-fonte, berravam e berram todos. Com isso, comprovaremos a maracutaia.
Ignoravam, ignorantes, a decorrência evidente. Se não recebessem o material, não poderiam denunciar nenhuma safadeza pois tinham amarrado as próprias mãos com antecedência. Grande estratégia, sem dúvida. O gênio criador desta deve ter decorado a “Arte da Guerra”, de Sun Tzu, o malemolente sábio militar oriental que junto com Maquiavel forma o dueto da derrota.
Pior ainda, o tal “código”, se fosse entregue, seria pelo próprio “suspeito” da singularidade. O arquiteto da vitória estava disposto a confiar no bandido. É de explodir a cabeça de qualquer um.
E estas grandes mentes estavam com pleno acesso aos ouvidos do presidnte, todo o tempo. Mas vamos adiante.
No grande cenário das coisas, o que era mais importante? Fazer a economia melhorar ou impedir a volta da quadrilha? Digo “volta” para simplificar pois sabemos que o que houve foi a interrupção de um processo mais longo de tomada do poder pela direita. A quadrilha nunca perdeu o poder de fato. A resposta é, evidentemente, a segunda opção.
Pois nestes quatro anos de governo Bolsonaro (inegavelmente o melhor presidente da história recente) o que foi feito para evitar essa retomada de poder? Eu mesmo digo aqui: NADA. E pior ainda: não fizeram nada e não declararam esse fracasso.
Depois do resultado eleitoral, quando vimos a maior manifestação cívida da história, onde estavam as nossas lideranças políticas? Eu respondo. Estavam caladinhas, por diversos motivos. Alguns ainda faziam algum barulho midiático mas ninguém tomou para si o apoio e a divulgação dos atos. É muito conveniente a desculpa de não vincular política aos protestos. Mas tal percepção era errada e ainda é. Eu mesmo cobrei isso algumas vezes.
Vi com meus próprios olhos um parlamentar discursar num evento sobre os riscos do ativismo judicial para a democracia (Hahaha) brasileira e em nenhum momento o elegante palestrante se dignou a reconhecer os patriotas que se exauriam a poucos quilômetros dali.
É esta liderança mesmo que irá dar alguma esperança para o Brasil? Ora, estes sujeitos estiveram no poder por QUATRO anos e não conseguiram fazer absolutamente nada contra o retorno da quadrilha ao poder. Agora, sem a presidência, vão fazer e acontecer? Fico com vergonha de ver tais jactâncias, sinceramente.
O que seria nobre, ainda que pífio, neste momento, seria um grande, sonoro e sincero Mea Culpa.
Sim, um Mea Culpa, parlamentares. Mea Culpa, presidente Bolsonaro. Mea Culpa, direita brasileira. Porque o que houve ano passado foi uma DERROTA, simplesmente. Uma derrota fenomenal. E não há como se confiar em pessoas que ignoram tal verdade e tentam desviar a atenção de um povo facilmente manipulável com discursos bravateiros que revelam, acima de tudo, a inócua capacidade dos congressistas e o cuidado exacerbado de muitos destes com seus cargos e salamaleques.
“Ah, Eduardo, quem é você para apontar o dedo assim? Você está com inveja, blá, blá, blá.” — gemerão alguns ofendidos. Sim, a pergunta é cabível. Quem sou eu para falar assim?
Respondo com tranquilidade. Sou um homem livre e temente a Deus. Se a Ele temo não temerei mais nada nem ninguém. Sou, além disso, um cidadão brasileiro, o que já me credencia ao debate político. Mas o pior para essa turma, é que falo a verdade. E esta tem um grande poder e uma mania maravilhosa de se revelar, mesmo ao mais renitente dos adeptos do auto-engano. Portanto falo, perturbo e repetirei essa mensagem muitas vezes ainda.
Mas e onde fica a esperança, Eduardo? Ora, como sempre disse, a esperança está em você, leitor. Em ninguém mais.
Quando a direita parar de terceirizar a solução de seus problemas, avançaremos. Quando a direita parar de procurar heróis na política, avançaremos. Quando a direita parar de endeusar pessoas que não tem muito além de um fino verniz para apresentar, avançaremos.
Mas estamos longe disso ainda. Mudar isso depende de você, leitor. Eu estou fazendo a minha parte. Faça a sua, não terceirize e coloque suas esperanças no Senhor, que chamou essa terra de Sua.