Perspectivas para o Ensino Brasileiro na Era Bolsonaro.

Eduardo Vieira
7 min readDec 30, 2019

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(Eduardo Vieira — 30/dez/2019)

Neste pequeno artigo vou expor as principais causas da tragédia que é o ensino brasileiro hoje, em todos os níveis. Vou mostrar rapidamente os dados que comprovam tal tragédia e discorrer sobre possíveis caminhos que poderiam ser trilhados para acelerar a saída desse lamaçal que condena o nosso povo.

Ranking do PISA 2018 na média das matérias. Brasil em 63º lugar de 73 analisados

Comecemos pelo ensino básico, observando os números coletados no teste PISA de 2018. Aqui vemos com clareza o tamanho da encrenca. Nosso país, sexta economia do mundo (dados de 2017), tem resultados compatíveis com Azerbaijão, Bósnia, Qatar e Líbano. O resultado prático dessa miséria insistentemente propagada e defendida é a incapacidade de nossos jovens de atuar em qualquer função. Só há diferença significativa nos sortudos alunos de escolas militares, federais e particulares. A maioria da população está condenada à estagnação social decorrente da miséria intelectual.

Infelizmente no ensino superior a situação não é diferente. Nossas universidades são hoje o mais vil programa de transferência de renda dos pobres para uma elite que não precisa prestar contas a ninguém. Ou não precisava. Vejam a análise elaborada pelo presidente do grupo Docentes Pela Liberdade, Marcelo Hermes, Luís Fabiano Borges, analista da Capes e Emanoel Barros, Professor-Doutor de economia da UFPE. Esta análise compara o impacto das pesquisas brasileiras (em azul) com as portuguesas (em laranja). A metodologia por ser encontrada no artigo¹ citado ao fim deste.

Se compararmos com todo o primeiro mundo a situação do Brasil se apequena de forma ainda mais humilhante. Não vou listar aqui as teses de mestrado e doutorado que assombraram nossos campi nas últimas décadas para manter razoável o nível dessa publicação.

Em termos de alfabetização, a base de tudo, a situação em 2016 era de 55% de alunos de 3º ano do Fundamental com resultados insuficientes na língua portuguesa².

O cenário está então bem desenhado. Quais as causas dessa tragédia, e o que fazer? Vejamos as causas primeiro.

Sem dúvida um dos pontos principais da nossa discrepância em relação ao resto dos gigantes econômicos é a inserção pesada de ideologia no sistema de ensino. Poderia falar disso por horas mas os remeto ao movimento “Escola Sem Partido” para buscarem dados brutos de abusos cometidos por professores em salas de aula, em nome do progressismo, do marxismo, do anti-cristianismo ou da desconstrução dos valores tradicionais. Tanto faz o rótulo, o resultado é o mesmo. A semente desse mal foi plantada pelo pensamento tenebroso de Jean-Jacques Rousseau, em conceitos como o “bom selvagem” e veio sendo regada e alimentada pelo pensamento revolucionário marxista e pós-moderno até chegarmos ao progressismo atual.

O paradigma sob o qual se acumulam as práticas erradas que assolam nosso sistema de ensino chama-se construtivismo. Originalmente concebido para trazer um pouco mais de ludicidade ao árido sistema de ensino instrucional esse grupo de conceitos evoluiu rapidamente culminando nos absurdos que vemos hoje, baseados em boa parte no pensamento de Piaget e Vigotsky. Sendo este último fortemente influenciado pelo materialismo marxista. Um defendia que o conhecimento era construído pelo ambiente e o outro, pela sociedade.

Se por um lado podemos concordar com fragmentos do pensamento de cada um, tem sido um erro recorrente tomarmos suas elucubrações como verdade, ignorando os resultados de testes de performance em nome de uma ideologia que no ensino brasileiro teve Paulo Freire como seu símbolo máximo.

Recomendo o ótimo vídeo do professor Dr. Vitor Geraldi Haase sobre o assunto³.

Imagem extraída do vídeo citado nas notas (³)

Observa-se como curiosidade a constante mudança de nome desse conceito educacional, de forma similar ao que ocorre nas correntes de pensamento marxistas.

Mudar então esse paradigma no Brasil é absolutamente urgente. Especialmente porque este traz consigo um conjunto de idéias espetacularmente deletério para o ensino brasileiro, como a isonomia entre os professores e a centralização de conteúdos e avaliações. No ensino público a situação piora por conta da segurança do funcionalismo e da consequente queda de performance e interesse docentes (exceções existem, obviamente).

Portanto, ao mesmo tempo em que se implementa uma mudança de paradigma no ensino é necessário reformar o sistema sindical e de relacionamento trabalhista do corpo docente, o que já seria assunto para outro longo artigo.

Vou finalizar esta parte enumerando ações e valores que considero vitais para qualquer sistema de ensino e que foram quase que integralmente destruídos nas décadas de administração pública pós-redemocratização.

  • Valorização da autoridade do docente
  • Estratificação do corpo docente por avaliações de mérito
  • Redução na burocracia do sistema
  • Modernização na administração do sistema
  • Redução drástica do poder e financiamento sindicais
  • Formação de centros de excelência
  • Premiação de docentes destacados com estímulo ao treinamento de novos docentes ou retreinamento de antigos
  • Liberdade muito maior às escolas públicas e absoluta às privadas
  • Redução drástica no escopo da BNCC, que hoje é um inaceitável currículo completo de ensino e não uma definição de diretrizes e conteúdo mínimo
  • Abolição do ENEM
  • Remoção do conceito de política do sistema, como o Projeto Político-Pedagógico, aberração completa muito usada no ensino atual
  • Mudança no método de definição de novas políticas de ensino com a efetiva democratização de fóruns e conselhos hoje dominados por sindicatos
  • Abolição do sistema de avaliação automática, hoje vigente mesmo que não por força de lei
  • Redução significativa na relação de tempo administrativo / sala de aula dos docentes dos Ensinos Fundamental e Médio

Esse pacote de medidas e mudanças de rumo e visão pode ser muito aumentado e desenvolvido mas me limitarei a citar apenas mais um conceito vital e absolutamente ausente do sistema atual.

Excelência

A busca por excelência deve ser o Norte maior de qualquer sistema de ensino. Seja fomentando a excelência individual, como o estímulo ao máximo rendimento do aluno até a excelência do grupo discente, sendo estimulado, premiado e criticado para avançar sempre nessa direção.

Encerro aqui a avaliação das causas que nos levaram ao atual estado de coisas e agora falarei rapidamente sobre o caminho ideal para se conquistar a desejada excelência.

Não poderia jamais deixar de citar o trabalho do Dr. Mortimer Adler, que enxergava o ensino de forma ampla, abrangente, rica e erudita. Sua visão de valorização das obras clássicas é na minha opinião vital para o aumento da qualidade do nosso ensino.

Além de vários excelentes manuais como esse acima, ele fez um trabalho extraordinário elencando as maiores obras literárias da Humanidade de acordo com a relevância das “Grandes Idéias” nestas presentes. Sua coleção de grandes obras compôs o cerne de muitos currículos da Ivy League americana e ajudou a retardar o efeito deletério do pensamento pós-moderno.

O resgate de métodos e visões tradicionais como o Trivium e o Quadrivium, como descritos em vários ótimos livros iria sem dúvida ajudar na formação de um intelecto sólido capaz de futuro e indispensável desenvolvimento. Cito aqui especificamente o Trivium, da Irmã Miriam Joseph.

O Trivium, por Irmã Miriam Joseph

Outro livro que considero vital para a aplicação de um ensino amplo e verdadeiramente rico é o Paideia, do Werner Jaeger, que discorre sobre a formação na Grécia antiga.

Paideia, a formação do homem grego — Jaeger

Estes livros valem muito mais que toda a faculdade de Pedagogia atualmente, e não digo isso sem conhecimento de causa. Atualmente, com os recursos tecnológicos de que dispomos, é possível o ministério de aulas com vigor, praticidade e alta participação dos estudantes, tornando o ensino mais rico e menos entediante.

Aliás a própria abordagem de valores primais como coragem, sacrifício, auto-controle e transcendentalidade iria sem dúvida ajudar e muito os alunos, os fortalecendo para a dura tarefa de amadurecer, inclusive do ponto de vista intelectual.

Talvez esteja sonhando muito alto mas é o nosso dever. Miremos nas alturas, sempre, e lutemos ao máximo pela elevação de nossas crianças e jovens.

Um novo Brasil os aguarda.

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(¹)- Artigo completo do impacto da pesquisa brasileira em comparação com a portuguesa — https://olivre.com.br/impacto-do-brasil-em-24-areas-em-comparacao-com-portugal?fbclid=IwAR3XzzVWmn9eV_Z_LCQqKGLrM812hx3gK9DD3Vqw9lyDXKe9QtamMvWmlLM

(²)- Avaliação Nacional de Alfabetização (2016) — https://www.observatoriodopne.org.br/indicadores/metas/5-alfabetizacao/indicadores

(³) — Vídeo da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia, ministrado pelo Dr. Vitor Geraldi Haase — https://youtu.be/KB7YuB3BH8w

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