Polarização para quê?
(Eduardo Vieira — 13/abr/2020)
As pessoas que, incrivelmente, ainda acham que o nosso mundo é movido pelo dinheiro e não por disputas de poder fomentadas por ideologia devem ler esse texto.
São pessoas que desconsideram qualquer raciocínio que exponha as raízes do pensamento revolucionário. Acham que disputar com os “progressistas” no campo ideológico é polarizar inutilmente o debate. Acham que o momento é de união.
Devem achar que se os agricultores ucranianos tivessem abraçado Stálin carinhosamente este não os teria matado aos milhares. Mao, coitado, a este faltou um aperto nas bochechas. Tivesse ele este gesto de carinho e união e não teria feito morrer à míngua mais de 50 milhões de chineses.
Aqui no Brasil essa turma, que usualmente se acha ainda por cima superior, por não se envolver em teorias da conspiração como Foro de São Paulo¹ ou marxismo cultural, sugere que não devemos atacar figuras como Rodrigo Maia ou Gilmar Mendes, pois eles agem como canalhas por falta de carinho.
Pois estes iludidos deveriam observar algo que está em falta nos apreciadores do Estúdio I. Senso de proporções. Vejamos alguns fatos e posturas de ambos os lados (sim, eu SÓ acredito na polarização, parafraseando Nelson Rodrigues quando falou de Papai Noel):
- Quarentena para o combate ao vírus chinês:
Direita: aderindo à quarentena no início, buscando informação de qualidade. Depois, percebendo o real cenário, tanto da epidemia quanto da economia, luta pela abertura do comércio e das escolas. A motivação principal é a preocupação com os menos favorecidos, para quem recessão significa desemprego, fome e morte. Organizando protestos pacíficos
Esquerda: aderindo à quarentena, fazendo campanha “Fique em casa”, fotos na piscina com espumantes e denúncias regulares ao ver qualquer aglomeração. Zero preocupação com o efeito econômico do isolamento porque correram ao mercado e estocaram tudo o que puderam, especialmente patê de foie gras. Não se preocupam nem com o ganso nem com os pobres. Esses sempre podem comer brioches. Panelaços eletrônicos às 20:30. Sugerem felizes que se estenda o isolamento por um ano.
- Decretos totalitários e controles eletrônicos:
Direita: todos horrorizados com a brutalidade do rompimento com a constituição. Defendendo a instituição PM ao mesmo tempo que atacam os governadores que determinam as ações desses agentes.
Esquerda: compartilhando vídeos de senhoras espancadas por policiais com comentários como “Esse gado tem que apanhar mesmo”. No dia seguinte vestem a camisa de paz, amor e anarquia e vão reclamar da opressão policial que vitimou seu traficante de estimação. Esperam que as entregas por drone se popularizem.
- Informações e dados sobre o vírus:
Direita: discutindo as incoerências do discurso escandalosamente alarmista da mídia. Escrevendo textos e gravando vídeos com explicações ponderadas. Comemorando a descoberta do eficaz tratamento com hirdoxicloroquina e azitromicina.
Esquerda: trombeteando o aumento no número de mortes. Assinando o canal do Ávido Tamarindo, que disputa a maior pilha de cadáveres com “especialistas” do mundo inteiro. Circulam nas ruas dentro de um zip loc gigante mas sempre de celular em punho para denunciar qualquer grupinho suspeito que possa gerar alguma movimentação econômica. Criam e divulgam os mais variados efeitos colaterais para o tratamento com HCQ e AZ mas já compraram o remédio. Alguns já até tomaram.
- Sobre as mortes pelo vírus:
Direita: lamentando e exigindo a adequada comprovação para que os dados se mantenham fiéis e confiáveis. Tentando reduzir ao máximo mas com plena consciência de que estas vão ocorrer. Registrando o estado dos hospitais e compartilhando informação sobre o tratamento em busca da salvação de mais vidas.
Esquerda: “Nenhuma morte é razoável!” — este é o grito de guerra dos esquerdistas quando o assunto é a mortandade pelo vírus. Dez minutos depois estão em videoconferência lendo Malthus e fazendo um bolão de redução populacional. Ao final se despedem com um grito de amor à Gaia e vão ver se o caviar já gelou. Ao saber que o pai do mordomo faleceu, resmungam entre si: — “É, mas ouvi dizer que votou no Bolsonaro”, — “Então já foi tarde”, — “Espero que o Wallace não fique abalado demais. Não aguento ficar sem o martini que ele prepara.”. De noite vão bater panelas e gritar que odeiam a classe média.
Exageros (pequenos) à parte, isso resume razoavelmente bem o que estamos presenciando. Imaginar que se tratem de dois lados da mesma moeda é literalmente coisa de doido.
Mas é exatamente esse o efeito de exposição maciça à grande mídia. Loucura, desespero e ódio.
(1) — Site oficial do Foro de São Paulo: https://forodesaopaulo.org/