Sobre os Calloways
(Eduardo Vieira — 10/mar/2024)
Ontem tive uma profunda conversa com a filhota. Falamos sobre como o mundo é repleto de incentivos para a maldade, para o embrutecimento dos sentidos, para a simplificação do pensamento, para a substituição da razão por um pacote de gatilhos desprovidos de substância e de virtude.
Então busquei um filme que representasse o que é bom no ser humano. E encontrei essa obra de arte verdadeiramente sublime. “Those Calloways” ou, em português, “Somente os fracos se rendem”. Curiosamente, está no catálogo da Disney, e falarei mais sobre isso no final desse texto.
O filme é sobre uma família que vive de forma algo isolada, com o pai em dificuldades financeiras eternas caçando animais para vender as peles. Numa pequena cabana nas montanhas, Cam Calloway vive com sua esposa Lídia e seu filho, um rapaz dos seus 20 anos, chamado Buck.
O pai é um defensor notório dos gansos selvagens, que anualmente passam pela cidade em sua viagem migratória. Pode parecer incoerente que um caçador de peles defenda a vida de gansos mas isso é decorrência do que citei mais acima. Cam faz sua caça com critérios e visando a subsistência, não o prazer simples.
Logo no início seu filho, que segue os passos do pai, ao invés de ser um jovem revoltado fumando cigarro e apostando corridas de carro com cabelo gomalinado, se revolta com um idiota da sua idade que estava atirando nos gansos bem ali, no meio da cidade. Então acontece uma briga, à qual a sociedade local assiste, interessada mas sem interferir. O garoto Calloway toma uma coça e sai, desanimado e triste, mas ciente de que apanhou de forma justa. As pessoas retornam aos seus afazeres, decepcionadas.
Ao voltar para casa, encontra seu pai, que pergunta o que houve com seu rosto, com algumas escoriações e hematomas. Responde-lhe que tomou uma coça. O pai diz então que tudo bem, e que o que importa mesmo é se levantar sempre. Mais adiante o garoto começa a treinar boxe e o pai trata de incentivá-lo. No fim do filme o garoto devolve a coça no trouxa que o tinha vencido no início. Dessa vez a sociedade se retira do evento sorrindo e elogiando.
A mãe, Lídia, é um exemplo precioso de fortaleza, sabedoria e submissão na medida adequada. Ao verem que perderiam sua casa, olha para o marido e pergunta se ele não tem dois braços fortes e um filho sadio para ajudar a fazer outra cabana. O pai, que estava triste pelas falhas em prover materialmente a sua família, ergue a cabeça, joga fora o uísque e abraça a mulher, dizendo não saber o que faria sem ela. E verdade maior não há.
Durante a dura construção da nova cabana, eis que surge a turma boa da cidade, trazendo toda sorte de materiais, comida e ainda instrumentos musicais, para um mutirão não solicitado e de fazer os olhos mais secos se hidratarem. A alegria comunitária dura até a noite, firme como uma rocha. A Bíblia é citada umas 20 vezes no filme, nem é preciso citar.
Tudo isso que descrevi sequer compõe a trama principal, para terem uma noção da quantidade de beleza humana concentrada em tão pouco tempo.
Quanto à Disney, este filme só aparece se houver uma busca bem definida. Logo no início os safados exibem aquele famigerado anúncio de “não conformação” cultural, pedindo desculpas sabe-se lá por que gatilho. Muito útil para se explicar aos menores a malícia por trás desse tipo de requisição canalha.
Após alguns minutos de filme a Disney brutalmente coloca outro filme na tela, com o original tocando numa janelinha, como se o filme tivesse subitamente terminado. Definitivamente algum unicórnio balofo de cabelo azul pretende que você não assista ao filme.
Aí estão as credenciais dessa obra, de um tempo onde a virtude e a palavra de Deus imperavam, juntas, claro, pois sem uma não há a outra. E isso deve ser sempre repetido.
Recomendo com todas as forças.